quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

A UNEGRO - Pernambuco Convida....



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Os movimentos sociais diante da integração da América Latina


Não foi por acaso que dezenas de entidades participaram, na segunda-feira (15), da Marcha pela Unidade Latino-Americana e Caribenha. Principal ato de convergência entre as diversas cúpulas que ocorrem desde sexta-feira (12) em Salvador, a animada passeata – com cerca de 10 mil participantes – ratificou a adesão e as expectativas dos movimentos diante de um continente cada vez mais livre e soberano.

“É importante que os jovens da América Latina possam se unir neste momento para construir uma saída soberana para a crise”, afirma Lúcia Stumpf, diretora nacional da UJS (União da Juventude Socialista) e presidente da UNE. Segundo ela, essa saída tem de garantir investimentos na juventude e na educação

A Oclae (Organização Continental Latino Americana e Caribenha de Estudantes) assumirá o compromisso de articular tais interesses na região em meio às transformações. “A juventude, através da Oclae, vai marchar unida, a partir dessas cúpulas até o Fórum Social Mundial, direcionando todas as nossas forças para enfrentar cada debate e construir caminhos comuns”, diz Lúcia.

Outro entusiasta é Rubens Diniz, membro do Cebrapaz (Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz) e integrante da comissão que organizou a Cúpula dos Povos do Sul. “A integração latino-americana já faz parte das lutas dos movimentos sociais do continente. Não só os governos mas também os movimentos precisam estabelecer seus projetos – ver qual modelo de desenvolvimento e integração nós queremos.”

Para Rubens, a representatividade da comissão organizadora do encontro demonstra essa preocupação. “A cúpula integrou entidades que compõem a CMS (Coordenação dos Movimentos Sociais), centrais sindicais, movimentos estudantil, comunitário, de mulheres, de negros e pela paz, além de organizações internacionais, como a rede Aliança Social Continental – da qual participam movimentos da América Latina e do Caribe.”

Artur Henrique, presidente da CUT, avaliou que a marcha de segunda-feira foi “um ato extremamente importante, bastante representativo, que mostrou a unidade do movimento sindical” na região. De acordo com Artur, “as centrais sindicais brasileiras assumiram a posição de vanguarda da organização da classe trabalhadora no Brasil e da luta por uma integração que tenha como centro o desenvolvimento econômico, com distribuição de renda, respeito ao meio ambiente e valorização do trabalho.”

Ressalvas

Apesar de apoiarem a luta pela unidade latino-americana e caribenha, alguns segmentos apontam insuficiências. É o caso dos trabalhadores do campo e do movimento negro. “Somos a favor da integração, mas ficaríamos mais contemplados se os debates se aprofundassem nos temas da soberania alimentar e da agricultura familiar”, declara João da Cruz, secretário de Políticas Agrícolas da Fetag-BA (Federação dos Trabalhadores na Agricultura da Bahia).

Membro da coordenação nacional da Unegro (União de Negros pela Igualdade), Vicente Silva dos Santos também pondera sobre a articulação dos movimentos na região. “Ainda não podemos dizer que a pauta do movimento negro está contemplada. Falta uma visão mais clara, mais límpida, do que os negros precisam no Brasil, na América Latina e no Caribe.”

De Salvador,
André Cintra


FONTE: PORTAL VERMELHO


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segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Barack Obama, pensando o significado da vitória após a festa

por Edson França*


No dia 4 de novembro o povo americano confirmou a eleição de Barack Obama para o cargo mais poderoso e cobiçado do planeta: presidência dos Estados Unidos da América.


No texto anterior disse que o fato de Obama vencer Hilary Clinton nas prévias do Partido Democrata e se tornar oficialmente candidato a Presidência da República de seu país com reais possibilidades de vitória, acusava um enorme avanço da sociedade americana. Sem precedentes, pois exigiu a superação de profundas feridas causadas por secular insanidade e ódio racial.

O resultado dessa eleição tem duplo significado: 1) maioria da população americana não está satisfeita com seus governantes e exige mudança; 2) vitória das políticas de ações afirmativas – caminho encontrado para combater o racismo e as desigualdades raciais nos EUA - sobre um mosaico racista composto pela superada lei segregacionista Jim Crow; sobre o terrorismo nazi-fascista da Ku Klux Klan, ainda presente no subterrâneo da sociedade americana; sobre a doutrina político-racista inspirada no apartheid sul-africano conhecida como “separetes but equals” (separados mais iguais); mais um histórico de agressões e falta de oportunidade aos negros. Várias opiniões estão sendo discutidas, o resultado eleitoral dos EUA continua em pauta, nos pontos de ônibus, botecos, campos de futebol da vázea, partidos políticos, sindicatos, nos restritos colóquios das elites políticas e intelectuais em todo planeta.

A eleição de um negro nos Estados Unidos representa uma vitória moral sobre o ultraconservadorismo racista, no entanto, nessa eleição, a questão racial se constituiu numa ínfima partícula, diante da vontade de mudança da massa proletária americana. Temos que aprofundar a reflexão sobre o significado da vitória de Barack Obama para os Estados Unidos, para luta dos negros contra a opressão racial e aos povos vítimas da agressão imperialista.

Lado de Obama

É importante destacar que é um erro esperar de Obama algo que não devemos esperar governo um progressista de qualquer americano eleito presidente, sendo ele democrata ou republicano, na atualidade não há forças revolucionárias ou de esquerda influenciando o processo eleitoral ou ameaçando o poder nos EUA. Por isso critico o texto “Obama fará o sonho de Martin Luther King?”, de Eduardo Galeano, postado no vermelho (www.vermelho.org.br). Galeano considera que a ascensão de Barack a presidência só se justificará se ele negar valores históricos (embora equivocados) da sociedade que o elegeu como líder maior; mudar o rumo da política externa de seu país; resolver o problema da imigração; empreender uma política de distribuição de renda, etc.

Sabemos que o Partido Democrata jamais oficializaria uma candidatura revolucionária ou de um presidenciável que representasse um atentado ao establisment, independente da cor de sua pele ou origem social. Há luta de classes na capital mundial do capitalismo, Barack Obama tem lado: da burguesia. Representa uma nova mentalidade, capaz de mobilizar grandes massas, por isso venceu o clã Clinton, numa batalha emperdenida. A escolha de Bush foi uma enorme falha da oligarquia financeira estadunidense.

Apesar do estilo diferenciado, Obama singrará um curso político benéfico ao império ianque, se empenhará para manter ou recuperar a hegemonia militar, política e econômica, ainda que o preço seja mais pobreza, exploração, terrorismo, mentira, medo, doença, opressão e guerra aos povos. De modo que a reflexão de Galeano tem uma distância suspeita de um componente importante no cenário analisado: o racial, por isso é unilateral. Desconsidera a história do poder nos Estados Unidos, as origens do presidente eleito, o peso das raças naquela sociedade e, ignora o fato do presidente eleito pertencer a uma minoria étnica num país profundamente racializado. Há recados importantes que o resultado da disputa eleitoral propagou: a enfática recusa da política ultraconservadora liderada por George Bush e o Partido Republicano; o lugar das raças/racismo nas sociedades contemporâneas.

Fracasso do Governo Bush

Barack Obama detectou há tempos a existência de um eloqüente consenso coletivo anti-bushiano, compreendeu a extensão dos erros cometidos pelo atual presidente, durante oito anos governou de costa para sociedade americana e opinião pública internacional. Foi fiel na aplicação de uma política econômica neoliberal, que têm reduzido postos de trabalho e corroído a riqueza da classe média americana desde a era Reagan. Seu governo fez opção em aumentar o gasto militar em detrimento do investimento em programas sociais, como educação e saúde. Abaixou ou perdoou, irresponsavelmente, impostos apenas dos mais ricos, permitindo alta evasão de divisa dos cofres públicos e mais dinheiro no bolso de quem tem muito.

O orçamento de Bush para área militar no ano fiscal de 2008 foi US$ 624,6 bilhões, isso compreende US$ 157 bilhões a mais que todo produto interno bruto da África do Sul - país mais rico do continente africano -, maior que a soma de toda economia anual portuguesa, maior que a produção de um ano da Suíça e da Noruega – para citar dois países ricos da Europa. O custo da agressão aos povos iraquiano e afegão (145 bilhões) é US$ 22 bilhões a mais que a soma de todo produto interno bruto dos dois países, de modo que a aplicação do recurso utilizado nas guerras fosse revertida para paz, inexistiria pobreza, recrudescimento do fundamentalismo religioso e atraso sócio-econômico nesses países ora agredidos. O ralo fiscal da guerra pesa bastante na economia estadunidense, quem está pagando o custo da insanidade bélica da camarilha bushiana, são a camada proletária e a classe média nos EUA, além dos povos que vivem em países pobres e não alinhados.

Bush foi leniente diante dos primeiros sintomas da crise, deixou o povo americano desprotegido. Hoje o império se encontra num atoleiro sem precedente, o capitalismo está diante de uma crise estrutural de caráter sistêmico, a mais grave das registradas desde o século 19. Bush está desmoralizado, contribuiu com o fim dos quase 65 anos do criminoso domínio econômico, político e militar do país que governou, acelerou falácia do prenunciado Fim da História e vitória definitiva do livre mercado, de Fukuyama.

Na política internacional Bush também acumulou fracasso. Teve como marca unilateralismo, beligerância, terrorismo de Estado, ameaça de destruição de soberanias dos países pobres e antiimperialistas, descumprimento de acordos – alegando a defesa da qualidade de vida do povo americano. Resultando em enfraquecimento da diplomacia ianque, crises e conflitos diplomáticos, isolamento político, tortura, recrudescimento das resistências e das guerras. Em razão dos oito anos ininterruptos de equívocos do governo cessante, os EUA se encontra desgastado interna e externamente, submerso ao desafio de salvar o capital, reconstruir uma imagem positiva para o império e restabelecer a esperança em seu povo. Há convicção de que algo precisa mudar, a era Bush fracassara, vai para história como o pior presidente dos EUA.

Barack Obama sintonizou-se ao estado de espírito do senso comum americano e encontrou uma palavra que expressou a medida exata dos anseios que afloravam: change (mudança em inglês). A promessa de mudança - potencializada sua credibilidade por uma candidatura negra - venceu o núcleo duro do establisment democrata, mobilizou a sociedade americana e em expressiva votação venceu o continuísmo simbolizado pelo senador John Mcain. O republicano compreendeu a enfática reprovação de seu correligionário que ocupava a Casa Branca, compreendeu que suas imagens estavam associadas e reconheceu a vitória do primeiro negro a presidente dos Estados Unidos.


Vitória de Obama e o enfraquecimento do racismo

A ascensão de Barack Hussein Obama, um negro filho de queniano, a Presidência da República dos Estados Unidos trouxe a luz a discussão racial. É importante considerar o simbolismo para a luta das minorias étnicas oprimidas a presença de um negro no mais alto cargo do país mais poderoso do mundo. As sociedades humanas estruturaram várias formas de dominação, com objetivo de estabelecer “o lugar social” para manter privilégios econômicos ou no acesso ao poder de poucos em detrimento de muitos, essa é a essência do racismo - uma ideologia que através do ódio domina gente. Secularmente, negros e índios, em todos os países do continente americano, tem desvantagens políticas, sociais e econômicas, justificadas pela cor da pele, cultura e religião.

Nos Estados Unidos o ódio racial sempre se explicitou sem pudor, sem cuidado, sem medo, não utilizou o rótulo da democracia racial, pois, é uma sociedade cuja maioria racial é branca, jamais se sentiu ameaçada pelas minorias. Pôde, sem medo - de convulsão social, sedição ou guerra –, exterminar os povos indígenas que comprometiam o projeto dos pioneiros e expor todo seu sadismo sobre a população negra - sem tergiversar. O racismo ianque nunca deu espaços para dúvidas, cordialidade ou diálogo, manifestou-se na sua forma bruta, romantizou o genocídio indígena e eternizou as mais brutais cenas de agressão contra a população negra até finais da década de 60 – comparável ao apartheid da África do Sul. Considerando esse quadro, considerando a permanência de conflitos étnicos nos Bálcãs, Cáucaso, África, Espanha, Irlanda, considerando a incidência do racismo em toda diáspora africana, negros e os povos vítimas da opressão etnorracial ou xenofobia comemoraram a vitória do filho do queniano em todo planeta.

A eleição americana suscitou o debate racial, embora provocado em várias ocasiões, Obama recusou transformar o tema em uma questão política, defendeu uma causa a serviço da coletividade americana, com isso ganhou apoio dos brancos e da juventude. Acreditou que é possível suplantar o conceito de raça. Tinha em mente o real sonho de Martin Luther King - ser julgado pelos seus atos e não pela cor de sua pele. Se acontecesse o contrário, não seria eleito. Sua vitória prova incontestemente que é possível construir sociedades pós-raciais. Essa convicção aponta para continuidade da luta contra o racismo, há possibilidades de superação dos conflitos baseados em intolerâncias com base na raça, cultura e religião. Compromete o status do racismo como instrumento eficaz de dominação, afinal perdeu sua justificação, na medida que o homem que ocupará o cargo mais poderoso do planeta é negro. Recoloca a predominância da contradição de classe, afinal Obama é burguês. Em síntese podemos dizer:

Sim, podemos realizar o sonho de King;
Sim, podemos individualmente ascender política e economicamente;
Sim, podemos eleger metalúrgico, índio, mulher, negro a Presidência da República;
Mas, atingiremos a verdadeira justiça quando construirmos um sistema social que distribua a riqueza coletivamente produzida, supere a desigualdade de classe, erradique a pobreza e estabeleça a paz. A saída para humanidade é o socialismo, não é essa a mudança que Obama propõe.




*Edson França, É Coordenador Geral da Unegro, membro do Conselho Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (CNPIR) e da coordenação da Conen-Coordenação Nacional de Entidades Negra



Fonte: Portal Vermelho


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