domingo, 15 de junho de 2008

Resistência Negra na Bahia




Como explicar a sedução da fotografia? Por que ela tem o estranho poder de nos transportar para outros lugares e tempos? É a fotografia um retrato da realidade ou o recorte da mesma pelo olhar do fotógrafo? Quais os sentimentos e verdades impressas em uma imagem? Qual a sua força quando se trata de dar visibilidade a aspectos da vida cultural de uma época ou de uma sociedade?



Por: Alberto Lima*





Essas e outras questões nos vêm à mente quando nos debruçamos sobre este trabalho etno-fotográfico sobre a comunidade negra soteropolitana. O fato de sermos partícipes e de nos identificarmos com essa comunidade e cultura muitas vezes não nos permitem um olhar mais distanciado, um olhar que afronta, confronta e dialoga preto. Pensamos que somos todos negros, culturalmente negros e automaticamente todos ao nosso redor compreendem e vivenciam as mesmas experiências. Inverdades. Somos parte de uma elite, mas não percebemos como os aparelhos de mídia nos negam, mesmo fazendo o que manda a lei. A lei não é criteriosa e não dimensiona tempo nem forma de apresentação do nosso povo na mídia. O sistema racista sabe manipular isso e nos coloca de costas, desfocados ou de forma que transmita exatamente o que eles sempre quiseram que pensassem de nós: mau-caráter, desinteligentes, sem importância, midiaticamente secundários. Estamos na mídia só legitimando "o paraíso racial que é o Brasil".

A fotografia tradicionalmente tem sido interpretada como uma técnica de captura da realidade. Desse ponto de vista, uma foto seria como um lapso do tempo congelado, sobre um suporte físico qualquer. Não gostaria que as minhas fotografias fossem somente obra de arte e sim grafias, sensações, sentimentos e pensamentos negro, étnico de poder e saberes para tranformar miséria em equidade.

Para outros olhares, nossas imagens podem parecer meros retratos, mas para o cidadão afro descendente o projeto Resistência Negra na Bahia, deve ser instrumento, um rito diário, uma ferramenta da cultura material e imaterial para transformação da realidade das negras necessidades da população afro-soteropolitana.

Resistência Negra na Bahia, é uma exposição para a reflexão sobre o papel do negro na sociedade, como nós estamos na mídia e influenciar olhares, textos, postura política e social, uma vigília para futuras intervenções nas politicas culturais e nos aparelhos de mídia.
Quando diante de fotografias de um povo bonito, muito além do que o militante mais orgânico pode dimensionar como marca de sua referência de beleza ou expressão artística, é que podemos imaginar onde estamos e o que somos.

Agradeço a todos que me emprestaram suas imagens, para este trabalho, doarei a quem se fizer presente levando um CD e retirarei da exposição as imagens dos que não desejarem estar nesta mídia. Convido todas e todos a participarem da construção deste trabalho contribuindo com críticas, sugestões e textos para a publicação final.






* Alberto Lima -


Contato:




Fone: (71) 9959-3975


** Imagens do povo negro de Salvador

Mostra com 5.000 imagens da cultura e povo negro de Salvador. A exposição faz parte do Projeto Resistência Negra na Bahia, de Alberto Lima. O lançamento, no dia 16 de junho, às 19 horas, no Centro Cultural da Câmara Municipal (Praça Municipal), terá palestras da Makota Valdina, Dr. Samuel Vida e Dr. Almiro Sena.